quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
sexta-feira, 13 de dezembro de 2019
O menino louco
Ao menino louco da casa ao lado
tinham-no preso. À noite ouvíamo-lo
a uivar. E eu sussurrava à minha almofada:
Obrigado, meu Deus! Ao menos eu estou livre.
O menino louco já não grita.
No entanto o grito acorda-me
nas noites negras sem estrelas.
Então não é o menino. Sou eu.
Inger Hagerup, Fra hjertets krater, 1964
tinham-no preso. À noite ouvíamo-lo
a uivar. E eu sussurrava à minha almofada:
Obrigado, meu Deus! Ao menos eu estou livre.
O menino louco já não grita.
No entanto o grito acorda-me
nas noites negras sem estrelas.
Então não é o menino. Sou eu.
Inger Hagerup, Fra hjertets krater, 1964
quarta-feira, 11 de dezembro de 2019
Eu sou o poema
Sou o poema que ninguém escreveu
Sou a carta que sempre se queimou.
Sou o caminho que ninguém tomou
e o som que nunca soou.
Sou a oração dos lábios mudos
Sou o filho de uma mulher não nascida,
uma corda que nenhuma mão estendeu
uma fogueira que ninguém acendeu.
Acordai-me! Redimi-me! Levantai-me já
da terra e disponha, de espírito e corpo e alma!
Mas quando rezo, só respostas incompletas.
Eu sou as coisas que não ocorrem nunca.
Inger Hagerup, Jeg gikk meg vill i skogene, 1939
Sou a carta que sempre se queimou.
Sou o caminho que ninguém tomou
e o som que nunca soou.
Sou a oração dos lábios mudos
Sou o filho de uma mulher não nascida,
uma corda que nenhuma mão estendeu
uma fogueira que ninguém acendeu.
Acordai-me! Redimi-me! Levantai-me já
da terra e disponha, de espírito e corpo e alma!
Mas quando rezo, só respostas incompletas.
Eu sou as coisas que não ocorrem nunca.
Inger Hagerup, Jeg gikk meg vill i skogene, 1939
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
Detalhe de uma paisagem invisível de novembro
No meio do país de névoa que se chama eu
há um velho sinal de trânsito sem caminho.
Ali está assinalando com a sua carcomida flecha
até aos pântanos e quilómetros de neblina.
Em vão procuro nomes e sinais.
Nevões e chuvas tudo apagaram.
Ali esteve uma vez o caminho para que me encaminhava.
Quando desapareceu e quando me perdi?
Vou às cegas como um invisual até essa palavra
que me indicaria o caminho da minha casa.
No meio do país de névoa que se chama eu
há um sinal sem caminho que me assusta.
Inger Hagerup, Fra hjertets krater, 1964
há um velho sinal de trânsito sem caminho.
Ali está assinalando com a sua carcomida flecha
até aos pântanos e quilómetros de neblina.
Em vão procuro nomes e sinais.
Nevões e chuvas tudo apagaram.
Ali esteve uma vez o caminho para que me encaminhava.
Quando desapareceu e quando me perdi?
Vou às cegas como um invisual até essa palavra
que me indicaria o caminho da minha casa.
No meio do país de névoa que se chama eu
há um sinal sem caminho que me assusta.
Inger Hagerup, Fra hjertets krater, 1964
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
segunda-feira, 11 de novembro de 2019
quinta-feira, 7 de novembro de 2019
quinta-feira, 31 de outubro de 2019
Zärtliche Nacht
Zärtliche Nacht Tender night
Es kommt die Nacht There comes the night
da liebst du when you love
da liebst du when you love
nicht was schön – what is not beautiful –
was häßlich ist. but ugly.
was häßlich ist. but ugly.
Nicht was steigt – What doesn’t rise –
was fallen muß. but has to fall.
was fallen muß. but has to fall.
Nicht wo du helfen kannst – When you cannot help –
wo du hilflos bist. but when you are helpless.
wo du hilflos bist. but when you are helpless.
Es ist eine zärtliche Nacht It is a tender night
die Nacht da du liebst the night when you love
die Nacht da du liebst the night when you love
was Liebe what love
nicht retten kann. cannot save.
nicht retten kann. cannot save.
Hilde Domin, Zärtliche Nacht
terça-feira, 22 de outubro de 2019
segunda-feira, 7 de outubro de 2019
Luz da lâmpada
A lâmpada é igual,
a luz é igual.
Mas a diferença operou-se em mim.
A lâmpada é igual,
a luz é igual.
Mas já não vejo o que via.
Acendia a lâmpada uma, duas vezes
e uma, duas vezes via a imagem d'Ela.
Acendo a lâmpada uma, duas vezes
e uma, duas vezes encontro o vácuo da moldura.
Acendo a lâmpada e nada vejo do que via sempre.
Apago a lâmpada
para criar, na escuridão,
o que não posso encontrar na realidade.
Nunca mais acenderei a lâmpada
porque me quero lembrar da outra luz.
Mário-Henrique Leiria
a luz é igual.
Mas a diferença operou-se em mim.
A lâmpada é igual,
a luz é igual.
Mas já não vejo o que via.
Acendia a lâmpada uma, duas vezes
e uma, duas vezes via a imagem d'Ela.
Acendo a lâmpada uma, duas vezes
e uma, duas vezes encontro o vácuo da moldura.
Acendo a lâmpada e nada vejo do que via sempre.
Apago a lâmpada
para criar, na escuridão,
o que não posso encontrar na realidade.
Nunca mais acenderei a lâmpada
porque me quero lembrar da outra luz.
Mário-Henrique Leiria
in Obras Completas II - Poesia
domingo, 22 de setembro de 2019
Poemas de amor e desamor
O amor não existe
ou é invisível e precisa de seres
vivos como tu e eu
para se deixar ver
ou: o amor é práxis
música acanhada que nem sempre se pode ouvir
§
eu só queria te dizer
que ele chega, que ele existe
que ele chega para todos, ao menos uma única vez
que ele estava aqui na sala
enquanto as cortinas tremulavam na janela aberta
e enquanto eu procurava um lápis
e que ele desapareceu tão safo
quanto o grande amor que tivemos
ele estava aqui, e como determinado cheiro
de determinado cabelo e determinado vestido
que ficou pendurado lá fora num determinado clima bastante húmido
já não estava mais aqui
quando me sentei para escrever
§
ou é invisível e precisa de seres
vivos como tu e eu
para se deixar ver
ou: o amor é práxis
música acanhada que nem sempre se pode ouvir
§
eu só queria te dizer
que ele chega, que ele existe
que ele chega para todos, ao menos uma única vez
que ele estava aqui na sala
enquanto as cortinas tremulavam na janela aberta
e enquanto eu procurava um lápis
e que ele desapareceu tão safo
quanto o grande amor que tivemos
ele estava aqui, e como determinado cheiro
de determinado cabelo e determinado vestido
que ficou pendurado lá fora num determinado clima bastante húmido
já não estava mais aqui
quando me sentei para escrever
§
Eis-nos aqui. É noite.
Chegamos aqui e desaparecemos de novo,
e feito os amantes nos deixamos
todos vamos nos deixar, todos
como o mundo com certeza também vai nos deixar.
Ou seja lá como é que era mesmo.
A geladeira treme amedrontada na cozinha.
As crianças dormem nas suas camas quentes. Os cérebros ardem
como as metrópoles cada qual debaixo de sua abóbada escura.
Geir Gulliksen, trad. Luciano Dutra
Chegamos aqui e desaparecemos de novo,
e feito os amantes nos deixamos
todos vamos nos deixar, todos
como o mundo com certeza também vai nos deixar.
Ou seja lá como é que era mesmo.
A geladeira treme amedrontada na cozinha.
As crianças dormem nas suas camas quentes. Os cérebros ardem
como as metrópoles cada qual debaixo de sua abóbada escura.
Geir Gulliksen, trad. Luciano Dutra
domingo, 7 de julho de 2019
quarta-feira, 3 de julho de 2019
Ce que je n'ai su te dire
Ce que je n'ai su te dire
Est juste là
Dans cette ombre fragile
Toujours proche
Dans ces mots vulnérables
Et quelques autres
Où frémit l'invisibilité
De ceux que je ne te dirais pas.
Solenn Emmvrique
Est juste là
Dans cette ombre fragile
Toujours proche
Dans ces mots vulnérables
Et quelques autres
Où frémit l'invisibilité
De ceux que je ne te dirais pas.
Solenn Emmvrique
segunda-feira, 1 de julho de 2019
sábado, 22 de junho de 2019
sexta-feira, 21 de junho de 2019
quinta-feira, 13 de junho de 2019
terça-feira, 11 de junho de 2019
Things to remember
She was intelligent but inarticulate. Words betrayed her: beautiful butterflies in her mind; dead moths when she opened her mouth for their release into the world.
Glen Duncan, I, Lucifer
Glen Duncan, I, Lucifer
sexta-feira, 7 de junho de 2019
segunda-feira, 3 de junho de 2019
sábado, 1 de junho de 2019
segunda-feira, 13 de maio de 2019
Her Cardboard Lover
The Animal Kingdom, 1932 |
British Agent, 1934 |
It's Love I'm After, 1937 |
Captured!, 1933 |
The Petrified Forest, 1936 |
Secrets, 1933 |
British Agent, 1934 |
Devotion, 1931 |
Secrets, 1933 |
The Petrified Forest, 1936 |
Let me tell you something, you forgetful old fool. Any woman is worth everything that any man has to give. Anguish, ecstasy, faith, jealousy, love, hatred... life or death. Don't you see that's the whole excuse for our existence? It's what makes the whole thing possible and tolerable.
Alan Squier (Leslie Howard), The Petrified Forest, 1936
sábado, 11 de maio de 2019
Cardboard Lover
The Petrified Forest, 1936 |
The First of the Few, 1942 |
The Petrified Forest, 1936 |
British Agent, 1934 |
The Petrified Forest, 1936 |
Pygmalion, 1938 |
The Petrified Forest, 1936 |
The First of the Few, 1942 |
Never the Twain Shall Meet, 1931 |
Pimpernel Smith, 1941 |
The Petrified Forest, 1936 |
A Free Soul, 1931 |
Of Human Bondage, 1934 |
Berkeley Square, 1933 |
Pygmalion, 1938 |
Of Human Bondage, 1934 |
The Petrified Forest, 1936 |
terça-feira, 7 de maio de 2019
domingo, 21 de abril de 2019
quinta-feira, 11 de abril de 2019
Look a bad thing in the eye and break the spell
Everything felt fragile and freshly come upon, but for now, at least, my depression had stepped back, giving me room to move forward. I had forgotten what it was like to be without it, and for a moment I floundered, wondering how I would recognize myself. I knew for certain it would return, sneaking up on me when I wasn’t looking, but meanwhile there were bound to be glimpses of light if only I stayed around and held fast to the long perspective. It was a chance that seemed worth taking.
— Daphne Merkin, “A Journey Through Darkness,” The New York Times
segunda-feira, 1 de abril de 2019
segunda-feira, 11 de março de 2019
Tudo isso há de começar mais uma vez
Tudo isso há de começar mais uma vez
o livro que eu levava pra todo lado e lia
vai ser lido por outro alguém. Alguém há de aprender
a contar até dez pela primeira vez, depois até cem
e alguém há de aprender os dias da semana e assim há de saber
que a sexta-feira é o melhor e que o domingo é o pior dia da semana
porque domingo é o dia em que só fazemos esperar pela segunda-feira
e com a segunda-feira até a quinta-feira é impossível contar
se a gente trabalha o dia inteiro e fica sentada numa cadeira de noite
Porém, mesmo assim tudo isso há de começar mais uma vez:
alguém há de sentar na escadaria sob essa luz sarapintada
tentando escrever um poeminha num pedaço de papel
e alguém há de aprender a pedalar,
e alguém há de ler que o universo encontra-se em expansão
e sobre sóis que só sabem seguir explodindo
e alguém há de estudar hebraico antigo e ornitologia
e passear à noitinha com as mãos no bolso do casaco
sabendo que há de morrer, mas não já já
antes outro alguém há de se apaixonar por ele, tomara,
e depois alguém há de deixá-lo, mas não já já
pois tudo isso há de começar mais uma vez: alguém há de ler
Pablo Neruda pela primeira vez, e Osip Mandelstam
e Bertholt Brecht, alguém há de ler Wisława Szymborska
e alguém há de descobrir quantos somos nós todos que vivemos nesse mundo
e de repente há de entender que cada um de nós é um indivíduo
mesmo que não haja individualismo suficiente para todos
e mesmo que não seja verdade que todas as pessoas
têm o mesmo valor, alguém há de aprender isso e crer nisso
até que não seja mais possível seguir crendo nisso
pois isso não parece ser verdade
pois isso não parece possível de se realizar
mesmo que não seja possível crer em mais nada além do facto
de a escuridão escalar os vários andares
e de a escuridão um dia chegar aos teus pés
e de tu um dia vadear nela e de ela chegar até às tuas mãos
e gritar na escuridão e beber a escuridão, não porque tens sede
mas porque não há mais nada senão ela, e porque aquela velha
luz sarapintada que não havia era suficiente para todos
não é mesmo? mas tudo isso há de ser repetido por outro alguém
e a luz dispara sem parar cruzando a escuridão
de 300.000 quilómetros e leva menos tempo para te achar do que um gato esquelético
enquanto estás ali parado tentando achar as chaves no bolso do casaco
e tudo o que te acontece acontece creias ou não creias que seja verdade
Geir Gulliksen, trad. Luciano Dutra
o livro que eu levava pra todo lado e lia
vai ser lido por outro alguém. Alguém há de aprender
a contar até dez pela primeira vez, depois até cem
e alguém há de aprender os dias da semana e assim há de saber
que a sexta-feira é o melhor e que o domingo é o pior dia da semana
porque domingo é o dia em que só fazemos esperar pela segunda-feira
e com a segunda-feira até a quinta-feira é impossível contar
se a gente trabalha o dia inteiro e fica sentada numa cadeira de noite
Porém, mesmo assim tudo isso há de começar mais uma vez:
alguém há de sentar na escadaria sob essa luz sarapintada
tentando escrever um poeminha num pedaço de papel
e alguém há de aprender a pedalar,
e alguém há de ler que o universo encontra-se em expansão
e sobre sóis que só sabem seguir explodindo
e alguém há de estudar hebraico antigo e ornitologia
e passear à noitinha com as mãos no bolso do casaco
sabendo que há de morrer, mas não já já
antes outro alguém há de se apaixonar por ele, tomara,
e depois alguém há de deixá-lo, mas não já já
pois tudo isso há de começar mais uma vez: alguém há de ler
Pablo Neruda pela primeira vez, e Osip Mandelstam
e Bertholt Brecht, alguém há de ler Wisława Szymborska
e alguém há de descobrir quantos somos nós todos que vivemos nesse mundo
e de repente há de entender que cada um de nós é um indivíduo
mesmo que não haja individualismo suficiente para todos
e mesmo que não seja verdade que todas as pessoas
têm o mesmo valor, alguém há de aprender isso e crer nisso
até que não seja mais possível seguir crendo nisso
pois isso não parece ser verdade
pois isso não parece possível de se realizar
mesmo que não seja possível crer em mais nada além do facto
de a escuridão escalar os vários andares
e de a escuridão um dia chegar aos teus pés
e de tu um dia vadear nela e de ela chegar até às tuas mãos
e gritar na escuridão e beber a escuridão, não porque tens sede
mas porque não há mais nada senão ela, e porque aquela velha
luz sarapintada que não havia era suficiente para todos
não é mesmo? mas tudo isso há de ser repetido por outro alguém
e a luz dispara sem parar cruzando a escuridão
de 300.000 quilómetros e leva menos tempo para te achar do que um gato esquelético
enquanto estás ali parado tentando achar as chaves no bolso do casaco
e tudo o que te acontece acontece creias ou não creias que seja verdade
Geir Gulliksen, trad. Luciano Dutra
I died in a good mood
For whatever we lose
(a you or a me)
it’s always ourselves
we find in the sea.
- E.E. Cummings
(a you or a me)
it’s always ourselves
we find in the sea.
- E.E. Cummings
Sophie Calle, I died in a good mood, 2013 |
Motivo Antigo
Mar claro,
tranquila água
– por meu sorriso
de mágoa.
Céu longo,
nuvem redonda
– por meu olhar
de sombra.
Caminho andado,
areia rude
– por meu rosto
de amargura.
Glória de Sant’Anna in Livro de Água, 1961
tranquila água
– por meu sorriso
de mágoa.
Céu longo,
nuvem redonda
– por meu olhar
de sombra.
Caminho andado,
areia rude
– por meu rosto
de amargura.
Glória de Sant’Anna in Livro de Água, 1961
Pouco a pouco
Pouco a pouco me esqueço, e não sei nada.
Assim será a morte, e o que da morte
é sono e dor aguda que me crispa plácido
em sonhos dissolvidos sem anseio ou mágoa.
Este ficar de longe, num cansaço;
o ouvir das vozes como outrora infância;
o estar-se imóvel mais, e devagar
perder, um após outro, o gosto a um gesto
mesmo pensado nesta horizontal
que alastra entre o passado e coisa alguma.
Este não ter senão a solidão
como silêncio e treva finalmente aceites.
A vida tão vivida e desejada,
o ser como o fazer, o sexo em tudo visto,
as coisas e as palavras possuídas,
tudo se não dissolve mas se afasta
alheio e sem saudade. Nem repouso
ou calmo abjurar da fúria amarga.
Apenas não sei nada, não recordo nada,
já nada quero, e aos outros deixo tudo.
Jorge de Sena
Assim será a morte, e o que da morte
é sono e dor aguda que me crispa plácido
em sonhos dissolvidos sem anseio ou mágoa.
Este ficar de longe, num cansaço;
o ouvir das vozes como outrora infância;
o estar-se imóvel mais, e devagar
perder, um após outro, o gosto a um gesto
mesmo pensado nesta horizontal
que alastra entre o passado e coisa alguma.
Este não ter senão a solidão
como silêncio e treva finalmente aceites.
A vida tão vivida e desejada,
o ser como o fazer, o sexo em tudo visto,
as coisas e as palavras possuídas,
tudo se não dissolve mas se afasta
alheio e sem saudade. Nem repouso
ou calmo abjurar da fúria amarga.
Apenas não sei nada, não recordo nada,
já nada quero, e aos outros deixo tudo.
Jorge de Sena
Anatol Knotek |
domingo, 3 de março de 2019
Windmills of your mind
Like a circle in a spiral, like a wheel within a wheel
Never ending or beginning on an ever spinning reel
As the images unwind, like the circles that you find
In the windmills of your mind
Never ending or beginning on an ever spinning reel
As the images unwind, like the circles that you find
In the windmills of your mind
Les moulins de mon coeur
Une pierre que l'on jette
Dans l'eau vive d'un ruisseau
Et qui laisse derrière elle
Des milliers de ronds dans l'eau
Au vent des quatre saisons
Tu fais tourner de ton nom
Tous les moulins de mon coeur
Dans l'eau vive d'un ruisseau
Et qui laisse derrière elle
Des milliers de ronds dans l'eau
Au vent des quatre saisons
Tu fais tourner de ton nom
Tous les moulins de mon coeur
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019
A si mesmo
Repousa para sempre,
meu exausto coração. Morto é o engano extremo
que eu supusera eterno. É morto. E sinto
que em nós de enganos caros
a mais da esp'rança, o desejar é extinto.
Repousa. Já bastante
hás palpitado. Coisa alguma vale
o teu bater, nem de suspiros é digna
a terra. Tédio amargo
a vida, e nada mais; e lama é o mundo.
Quieto, pois. Desespera
por uma última vez. À raça humana o fado
não deu mais que o morrer. Agora te despreza
a natureza, o brutal
poder que, oculto, contra nós impera,
e a infinda vaidade do que existe.
Giacomo Leopardi
meu exausto coração. Morto é o engano extremo
que eu supusera eterno. É morto. E sinto
que em nós de enganos caros
a mais da esp'rança, o desejar é extinto.
Repousa. Já bastante
hás palpitado. Coisa alguma vale
o teu bater, nem de suspiros é digna
a terra. Tédio amargo
a vida, e nada mais; e lama é o mundo.
Quieto, pois. Desespera
por uma última vez. À raça humana o fado
não deu mais que o morrer. Agora te despreza
a natureza, o brutal
poder que, oculto, contra nós impera,
e a infinda vaidade do que existe.
Giacomo Leopardi
Ghismonda com o coração de Guiscardo (detalhe), Bernardino Mei, c. 1650 |
The heart dies a slow death
The heart dies a slow death. Shedding each hope as leaves, until one day there are none. No hopes. Nothing remains.
Memoirs of a Geisha (2005)
Memoirs of a Geisha (2005)
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019
Melody Noir
Quem é esta mulher,
a sempre triste,
que vive no meu coração?
Quis conquistá-la mas não consegui.
Adornei-a com grinaldas
e cantei em seu louvor
Por um momento
bailou o sorriso no seu rosto,
mas logo se desvaneceu.
E disse-me cheia de pena:
— A minha alegria não está em ti.
Comprei-lhe argolas preciosas,
abanei-a com leques recamados de diamantes,
deitei-a em cama de oiro
Bateu as pálpebras
como um relâmpago de alegria
que logo se apagou.
E disse-me cheia de pena:
— Não está nessas coisas a minha alegria.
Sentei-a num carro de triunfo,
e passeei-a por toda a terra.
Milhares de corações conquistados
caíram humildes a seus pés,
e as aclamações reboaram pelo céu
Durante um momento
brilhou o orgulho nos seus olhos,
mas logo se desfez em lágrimas.
E disse cheia de pena:
— Não está na vitória a minha alegria.
Perguntei-lhe:
— Que queres então?
Respondeu-me:
— Espero alguém
que não sei como se chama.
Depois calou-se.
E passa os dias a dizer cheia de pena:
— Quando virá o amado desconhecido?
Quando o conhecerei para sempre?
Rabindranath Tagore
Canta canta mi luna mi luna llena
Esta melodia que es el abismo dentro de mi
El abismo dentro de mi
Mi luna mi luna llena
a sempre triste,
que vive no meu coração?
Quis conquistá-la mas não consegui.
Adornei-a com grinaldas
e cantei em seu louvor
Por um momento
bailou o sorriso no seu rosto,
mas logo se desvaneceu.
E disse-me cheia de pena:
— A minha alegria não está em ti.
Comprei-lhe argolas preciosas,
abanei-a com leques recamados de diamantes,
deitei-a em cama de oiro
Bateu as pálpebras
como um relâmpago de alegria
que logo se apagou.
E disse-me cheia de pena:
— Não está nessas coisas a minha alegria.
Sentei-a num carro de triunfo,
e passeei-a por toda a terra.
Milhares de corações conquistados
caíram humildes a seus pés,
e as aclamações reboaram pelo céu
Durante um momento
brilhou o orgulho nos seus olhos,
mas logo se desfez em lágrimas.
E disse cheia de pena:
— Não está na vitória a minha alegria.
Perguntei-lhe:
— Que queres então?
Respondeu-me:
— Espero alguém
que não sei como se chama.
Depois calou-se.
E passa os dias a dizer cheia de pena:
— Quando virá o amado desconhecido?
Quando o conhecerei para sempre?
Rabindranath Tagore
Canta canta mi luna mi luna llena
Esta melodia que es el abismo dentro de mi
El abismo dentro de mi
Mi luna mi luna llena
Dream of the Phone Booth
My story’s told in the mis-dial’s
hesitance & anonyms of crank calls,
in the wires’ electric elegy
& glass expanded by the moth
flicker of filament. I call a past
that believes I’m dead. On the concrete
here, you can see where
I stood in rust, lashed to the grid.
On the corner of Pine & Idlewood,
I’ve seen a virgin on her knees
before the angel
of a streetlight & Moses stealing the Times
to build a fire. I’ve seen the city fly
right through a memory & not break
its neck. But the street still needs a shrine,
so return my ringing heart & no one
to answer it, a traveler whose only destination is
waywardness. Forgive us
our apologies, the bees in our bells, the receiver’s
grease, days horizoned
into words. If we stand
monument to anything,
it’s that only some voices belong
to men.
Emilia Phillips
hesitance & anonyms of crank calls,
in the wires’ electric elegy
& glass expanded by the moth
flicker of filament. I call a past
that believes I’m dead. On the concrete
here, you can see where
I stood in rust, lashed to the grid.
On the corner of Pine & Idlewood,
I’ve seen a virgin on her knees
before the angel
of a streetlight & Moses stealing the Times
to build a fire. I’ve seen the city fly
right through a memory & not break
its neck. But the street still needs a shrine,
so return my ringing heart & no one
to answer it, a traveler whose only destination is
waywardness. Forgive us
our apologies, the bees in our bells, the receiver’s
grease, days horizoned
into words. If we stand
monument to anything,
it’s that only some voices belong
to men.
Emilia Phillips
Endeavour, 2017 |
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