a luz é igual.
Mas a diferença operou-se em mim.
A lâmpada é igual,
a luz é igual.
Mas já não vejo o que via.
Acendia a lâmpada uma, duas vezes
e uma, duas vezes via a imagem d'Ela.
Acendo a lâmpada uma, duas vezes
e uma, duas vezes encontro o vácuo da moldura.
Acendo a lâmpada e nada vejo do que via sempre.
Apago a lâmpada
para criar, na escuridão,
o que não posso encontrar na realidade.
Nunca mais acenderei a lâmpada
porque me quero lembrar da outra luz.
Mário-Henrique Leiria
in Obras Completas II - Poesia