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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Hoje deu-me para isto...



In my opinion, your opinion that it’s a silly song is a silly opinion."
- Cary Grant em "Monkey Business"






terça-feira, 18 de outubro de 2011

Os maus olhares

Desceu a escada. Na entrada parou em frente de um grande espelho de moldura doirada, pendurado por cima de um tremó. Estava ainda mais pálida agora. Abriu a carteira e, rapidamente, pôs um pouco mais de rouge nos dois lados da cara.
Então, no fundo do espelho, atrás da sua cara, viu, descendo a escada, a terceira rapariga. Era loira, não alta mas esguia e tinha um ar aéreo. O vestido chiffon cor-de-rosa pálido dançava em redor de seus passos.
Lúcia fingiu não a ver mas a rapariga avançou, parou ao seu lado em frente do espelho, sorriu e disse:
- Não se veja nesse espelho. Faz muito má cara.
Lúcia perplexa murmurou:
- Pois é, talvez...
- A sua pele é linda e branca - atalhou a rapariga, e, ali, parece cinzenta. É melhor não olhar para lá.
Pairou um silêncio. Alguém que passava chamou a rapariga. Ela, sem se mover, respondeu:
- Vou já.
Depois hesitou um instante, sorriu de novo e, olhando Lúcia, continuou:
- Sabe... é preciso não dar importância a este género de espelhos. São como as pessoas más, não dizem a verdade.
- Pois, pois é - concordou Lúcia tentando entrar no imprevisto tom da conversa.
- Sabe - e a rapariga tomou um ar ausente como se falasse sozinha - não sabemos ao certo o que querem os maus reflexos, os maus olhares, as más palavras. Talvez a perdição da nossa alma. E temos que manter a nossa alma livre.
- Pois é - concordou Lúcia espantada.
- É - rematou a rapariga.
Depois, voltou a sorrir, sacudiu os cabelos e disse:
- Tenho de ir, até já.
E afastou-se.


in Histórias da Terra e do Mar - História da Gata Borralheira, de Sophia de Mello Breyner Andresen


Andre Kertesz - Distortion

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Descalça de viver

Anne Lefebvre

Descalça de viver, andava sempre.
Enchia a rua quando não passava.
Mas, se passava, desfazia o tempo
e apagava a rua, os homens e as lágrimas.

Nem ela própria já vivia dentro
de si. A roupa que levava
tinha uma cor de triste e pensamento
que não se sente e não se vê. E nada

dela se via que não fosse um vento.
Nem um silvo ou perfume a denunciava.
Sabia-se, de certo, que vivia

porque o dia, a certas horas se quedava
pronto, parado, como não sendo dia.
Ela, descalça de viver, passava...


Fernando Echevarría,"Sobre as Horas",1963

domingo, 9 de outubro de 2011

Parting

There’s no use in weeping,
Though we are condemned to part:
There’s such a thing as keeping
A remembrance in one’s heart:

There’s such a thing as dwelling
On the thought ourselves have nurs’d,
And with scorn and courage telling
The world to do its worst.

Charlotte Bronte


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Um brinde aos falsos amigos

I’m now quite cured of seeking pleasure in society, be it country or town. A sensible man ought to find sufficient company in himself.”

Emily Bronte, Wuthering Heights

"Amen" - Bette Davis em All About Eve, Joseph L. Mankiewicz, 1950

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Província I

Amo esta rua antiga de província,
quieta, silenciosa.
Casas de rés-do-chão e andar
dão-lhe uma linha sinuosa
como de um bêbado a vaguear
a desoras...

Um velho relógio
deu agora horas,
horas cansadas, horas de há muito tempo:
são um lamento de eras passadas
em que a velha era menina
e desfiava
a teia azul das horas descuidadas

Que é das meninas desse tempo
nas varandas debruçadas?

Saul Dias, Obra Poética


Les coiffeuses au soleil, Robert Doisneau

sábado, 1 de outubro de 2011

Eco da Anterior

Que dúvida Que dívida Que dádiva
Que duvidávida afinal a vida

David Mourão-Ferreira, Lira de bolso, 2ªed, Dom Quixote, 1971


Might as well...

Razors pain you;
Rivers are damp;
Acids stain you;
And drugs cause cramp.
Guns aren’t lawful;
Nooses give;
Gas smells awful;
You might as well live.

Dorothy Parker (1893-1967)

Família Adams
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