Man Ray, Uma fotografia do anjo, 1925
I
Angel Heurtebise on the steps
Beats me with his wings
Of watered silk, refreshes my memory,
The rascal, motionless
And alone with me on the agate
Which breaks, ass, your supernatural
Pack-saddle.
II
Angel Heurtebise with incredible
Brutality jumps on me. Please
Don't jump so hard,
Beastly fellow, flower of tall
Stature.
You've laid me up. That's
Bad manners. I hold the ace, see?
What do you have?
III
Angel Heurtebise pushes me;
And you, Lord Jesus, mercy,
Lift me, raise me to the corner
Of your pointed knees;
Undiluted pleasure. Thumb, untie
The rope! I die.
IV
Angel Heurtebise and angel
Cegeste killed in the war-what a wondrous
Name-play
The role of scarecrows
Whose gesture no frightens
The cherries on the heavenly cherry trees
Under the church's folding door
Accustomed to the gesture yes.
V
My guardian angel, Heurtebise,
I guard you, I hit you,
I break you, I change
Your guard every hour.
On guard, summer! I challenge
You, if you're a man. Admit
Your beauty, angel of white lead,
Caught in a photograph by an
Explosion of magnesium.
Jean Cocteau, Heurtebise, 1925
Acontecia-me, quando muito intoxicado, dormir intermináveis sonos de meio-segundo. Um dia ao ir ver Picasso, à Rua La Boétie pareceu-me subir no elevador costas com costas com não sei o quê de terrível e que seria eterno. Uma voz gritou-me: "O meu nome encontra-se nessa placa". Um safanão fez com que acordasse e li sobre a placa de cobre os manípulos: ELEVADOR HEURTEBISE. Recordo-me que eu e Picasso falámos de milagres; Picasso dizia que tudo era um milagre, que era um milagre não nos derretermos no banho, como um pedaço de açúcar. Pouco depois, o anjo Heurtebise surgiu-me e comecei o poema. Na minha visita seguinte olhei para a placa. Nela havia o nome OTIS-PIFRE; o elevador havia mudado de marca.
Terminei o ANJO HEURTEBISE, poema ao mesmo tempo inspirado e formal como o jogo do xadrez, em vésperas da minha desintoxicação, na rua Chateaubriand.
Jean Cocteau, Ópio, diário de uma desintoxicação