Pergunto a mim mesmo como há quem possa escrever a vida dos poetas se os próprios poetas o não conseguem fazer. Existem demasiados mistérios, demasiadas mentiras verdadeiras, demasiada confusão.
Que dizer das apaixonadas amizades que é preciso confundir com o amor e que são apesar disso outra coisa, dos limites do amor e da amizade, desta zona do coração no qual sentimentos desconhecidos participam, não podendo compreender os que vivem em série?
As datas cavalgam, os anos embrulham-se. A neve funde, os pés voam; e não restam sinais.
Jean Cocteau, Ópio, diário de uma desintoxicação
Francesco del Cossa, Alegoria de Abril (detalhe), 1470