quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
Esclarecimento
Quando estamos cansados
deitamos o corpo
e adormecemos
às vezes não
procuramos outra mão
outros olhos
que nos limpem a fadiga
e evitem o sono
que nos vem antigo
quando estamos cansados
podemos erguer o corpo
e acordar
e morrer acordados
sem cansaço
Mário-Henrique Leiria
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
domingo, 25 de outubro de 2015
À porta do Deutsche Bank
We all have credit,
Said the bankers.
A matter of faith.
Hans Magnus Enzenberge
À
porta do Deutsche Bank (ao lado de
Jean Valjean) um casal de namorados reúne-se
num abraço. Por instantes acreditam na
arte do recomeço
num país onde o ministro desista de
inaugurar as ruínas
dos seus sonhos. Longe nos rios da Europa
corre uma linfa comum
(como a fenda na parede hesitando ao avançar
corrigindo erro-a-erro o seu
próprio percurso). Enquanto os jovens se abraçam
o ágio passa-lhes ao lado -
suspendem-se os dias tristes neste país periférico
sem esperança nem remorsos onde
a Europa passa férias. À porta do Deutsche Bank
só tem crédito a ilusão
logo tudo acabará num depósito
de amor.
João Luís Barreto Guimarães, 'As ruas estão acesas' in "Mediterrâneo", livro de poemas inédito a lançar em janeiro pela Quetzal
Said the bankers.
A matter of faith.
Hans Magnus Enzenberge
À
porta do Deutsche Bank (ao lado de
Jean Valjean) um casal de namorados reúne-se
num abraço. Por instantes acreditam na
arte do recomeço
num país onde o ministro desista de
inaugurar as ruínas
dos seus sonhos. Longe nos rios da Europa
corre uma linfa comum
(como a fenda na parede hesitando ao avançar
corrigindo erro-a-erro o seu
próprio percurso). Enquanto os jovens se abraçam
o ágio passa-lhes ao lado -
suspendem-se os dias tristes neste país periférico
sem esperança nem remorsos onde
a Europa passa férias. À porta do Deutsche Bank
só tem crédito a ilusão
logo tudo acabará num depósito
de amor.
João Luís Barreto Guimarães, 'As ruas estão acesas' in "Mediterrâneo", livro de poemas inédito a lançar em janeiro pela Quetzal
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Ouvindo...
porque haveria de ter saudades tuas
ao longo de um claro rio de água doce
ao longo de um claro rio de água doce
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
Ode à Paz
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
pelas aves que voam no olhar de uma criança,
pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
pela branda melodia do rumor dos regatos,
pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
pelos aromas maduros de suaves outonos,
pela futura manhã dos grandes transparentes,
pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
Natália Correia, Inéditos
pelas aves que voam no olhar de uma criança,
pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
pela branda melodia do rumor dos regatos,
pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
pelos aromas maduros de suaves outonos,
pela futura manhã dos grandes transparentes,
pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
Natália Correia, Inéditos
Romualdas Rakauskas |
sábado, 5 de setembro de 2015
Cristianismo
Bíblia, Livro do Levítico, capítulo 19, Antigo Testamento
“Hoje, há mais mártires do que nos primeiros séculos.”
Papa Francisco
“Hoje, há mais mártires do que nos primeiros séculos.”
Papa Francisco
Muro
"Se um mar não trava o desespero, é um muro que vai parar?"
Babar Baloch, porta-voz da Agência da ONU para Refugiados
Instado a comentar qual a diferença entre a cortina de ferro dos tempos da União Soviética e a vedação que a Hungria está a construir na fronteira com a Sérvia, ao longo de 175 km, Orbán teve uma frase lapidar: “A primeira era contra nós, esta é a nosso favor”.
Babar Baloch, porta-voz da Agência da ONU para Refugiados
Instado a comentar qual a diferença entre a cortina de ferro dos tempos da União Soviética e a vedação que a Hungria está a construir na fronteira com a Sérvia, ao longo de 175 km, Orbán teve uma frase lapidar: “A primeira era contra nós, esta é a nosso favor”.
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
sábado, 15 de agosto de 2015
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
Não menos que Helena bela
Não menos que Helena bela
Ela senta-se à janela
Porém não à janela mas às janelas
Do computador
Que abrem portas que são redes
Páginas que são sítios
Avenidas que são ermos
Que agora percorremos
Já sem voz
Cada vez mais sós
Tanta profusão
Atira-nos
Para um lixo que nos deita fora
Ana Hatherly
Ela senta-se à janela
Porém não à janela mas às janelas
Do computador
Que abrem portas que são redes
Páginas que são sítios
Avenidas que são ermos
Que agora percorremos
Já sem voz
Cada vez mais sós
Tanta profusão
Atira-nos
Para um lixo que nos deita fora
Ana Hatherly
quarta-feira, 22 de julho de 2015
terça-feira, 14 de julho de 2015
"We Will Crush You"
Data
(à maneira de Eustache Deschamps)
Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação
Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo que mata quem o denuncia
Tempo de escravidão
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo que mata quem o denuncia
Tempo de escravidão
Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rastro
Tempo de ameaça
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rastro
Tempo de ameaça
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'
Peter Kazimír, Ministro das Finanças eslovaco, lacaio de Schäuble. O comentário foi entretanto apagado da sua conta Twitter |
segunda-feira, 13 de julho de 2015
A decisão
Vocês são a favor ou contra?
Respondam sim ou não.
Decerto já pensaram no problema
Creio sinceramente que ele os tem preocupado.
Tudo na vida traz preocupações
Crianças mulheres insectos
Plantas nocivas, horas sem proveito
Paixões difíceis, dentes cariados
Filmes medíocres. E isto decerto os preocupa.
Sejam responsáveis e digam: Sim ou não.
A vocês é que cabe decidir.
Não lhes pedimos evidentemente que abandonem
Suas ocupações, que interrompam sua vida
O jornal preferido o bate-papo
No barbeiro os domingos ao ar livre.
Uma palavra só. Vamos, então:
Vocês são contra ou a favor?
Pensem bem: Eu fico à espera.
Respondam sim ou não.
Decerto já pensaram no problema
Creio sinceramente que ele os tem preocupado.
Tudo na vida traz preocupações
Crianças mulheres insectos
Plantas nocivas, horas sem proveito
Paixões difíceis, dentes cariados
Filmes medíocres. E isto decerto os preocupa.
Sejam responsáveis e digam: Sim ou não.
A vocês é que cabe decidir.
Não lhes pedimos evidentemente que abandonem
Suas ocupações, que interrompam sua vida
O jornal preferido o bate-papo
No barbeiro os domingos ao ar livre.
Uma palavra só. Vamos, então:
Vocês são contra ou a favor?
Pensem bem: Eu fico à espera.
domingo, 12 de julho de 2015
Némesis
Os gritos vãos
Ninguém a quem dizer
que nada temos a dizer
e que o nada que dizemos
continuamente
o dizemos a nós mesmos
como se nada nos disséssemos
como se ninguém nos dissesse
nem mesmo nós
que nada temos a dizer
ninguém
a quem poder dizê-lo
nem mesmo nós
Ninguém a quem dizer
que não temos nada a fazer
e que nada mais fazemos
continuamente
o que é um modo de dizer
que não fazemos nada
um modo de não fazer nada
e de dizer o que fazemos
Ninguém a quem dizer
que não fazemos nada
que nada fazemos
senão o que dizemos
nada quer dizer
Ghérasim Luca
segunda-feira, 6 de julho de 2015
domingo, 5 de julho de 2015
sábado, 4 de julho de 2015
Oxi
Pranto pelo Dia de Hoje
Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'
Passaremos fome mas estaremos de pé
Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'
Passaremos fome mas estaremos de pé
sábado, 27 de junho de 2015
domingo, 21 de junho de 2015
Ausência
Voltei de novo ao cais
Lembrei a despedida
O teu olhar tão triste
A minha voz contida
Não sei dizer adeus
Estou presa à tua imagem
Rogo a Deus e aos céus
Seja breve a viagem
Encontro a tua ausência
Em todos os lugares
Eu colho a tua essência
Nas coisas mais vulgares
Será que és constante
Às juras que fizeste
Ou por um só instante
De todo me esqueceste?
Já sequei o meu pranto
Calei o meu lamento
Mas vou contando as horas
À espera de encontrar-te
Diz-me que não demoras
Diz-me que não é tarde."
Teresa Salgueiro
In " O Mistério"
quarta-feira, 17 de junho de 2015
The Stroll
blues da morte de amor
já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida.
mas afinal não morri, como se vê, ah, não,
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.
a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.
há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali,
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete: - morrer ou não morrer, darling, ah, sim.
Vasco da Graça Moura
já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida.
mas afinal não morri, como se vê, ah, não,
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.
a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.
há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali,
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete: - morrer ou não morrer, darling, ah, sim.
Vasco da Graça Moura
quarta-feira, 10 de junho de 2015
A gente não lê
Meu querido Portugal, que tanto me exaspera.
sábado, 23 de maio de 2015
I believe I can fly
Em vez de atirarem o gato da varanda, porque não atirar o tal senhor que diz adorar a pornografia de estar vivo?
Pois não foi ele que disse...
segunda-feira, 18 de maio de 2015
sexta-feira, 1 de maio de 2015
Ai se sêsse
Um poema "mal escrito" como deve ser (rói-te de inveja, ó Chagas!).
sábado, 25 de abril de 2015
Os Erros
Os Erros
A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida — o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos
Deverá tudo passar a ser passado
Como projecto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida — o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos
Deverá tudo passar a ser passado
Como projecto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
quinta-feira, 23 de abril de 2015
E viva a pornografia de escrever idiotices para idiotas. E ganhar dinheiro com isso.
Pedro Chagas Freitas
A arte de escrever para idiotas
sábado, 18 de abril de 2015
The Evil Vagina
"Afinal, o sexo do homem é muito mais honesto, visível e mais facilmente lavável, enquanto o das mulheres é mais sinistro".
(Valter Hugo Mãe, entrevista ao Diário de Notícias, 23/9/2013)
domingo, 5 de abril de 2015
quinta-feira, 2 de abril de 2015
domingo, 29 de março de 2015
sexta-feira, 27 de março de 2015
sábado, 21 de março de 2015
domingo, 8 de março de 2015
Entre a praia e o jardim
entre a praia e o jardim
as margens da luz:
praias de longa duração fluindo
em torno de um jardim instantâneo;
jardins que vão crescendo durante séculos
até um relâmpago de praia onde
o teu corpo em flashes brancos
se incendeia branco;
o espanto que
assombra o espanto, nas fronteiras
perturbadas, o fulgurante
mar, a massa de árvores
na montanha.
Manuel Gusmão
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
sábado, 14 de fevereiro de 2015
terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
Estás tão ausente
(Silêncio).
- Estás tão ausente.
- Também tu estás ausente.
- Diz-me porquê.
- Diz-me também tu porquê.
- Isso entristece-me tanto.
- E como pensas que me sinto.
- O mesmo te pergunto eu.
- És tu que me tornas ausente.
- Mas eu estou aqui.
- Eu também, deixa lá!
(Silêncio).
Per Aage Brandt
- Estás tão ausente.
- Também tu estás ausente.
- Diz-me porquê.
- Diz-me também tu porquê.
- Isso entristece-me tanto.
- E como pensas que me sinto.
- O mesmo te pergunto eu.
- És tu que me tornas ausente.
- Mas eu estou aqui.
- Eu também, deixa lá!
(Silêncio).
Per Aage Brandt
Robert Montgomery |
domingo, 18 de janeiro de 2015
Suicídio
Havia em mim uma vintena de gerações,
Assim pelo menos,
E nessa manhã, vá-se lá saber porquê,
Uma janela deixada aberta talvez,
Alguém se atirou para o vazio.
Então subitamente todos eles
Se puseram a saltar
Uns atrás dos outros,
À bicha, como que fazendo a chamada
Sobre um trampolim,
Segundo o princípio da desintegração dos carneiros.
Em menos de uma hora e meia
Encontrei-me totalmente despido, sem nada,
E de vergonha atirei-me para o vazio também eu,
Devo ter morrido à altura do quarto andar,
Ao décimo, em todo o caso,
A coisa estava consumada.
Tudo isto,
É um mero passante,
Quem vo-lo conta,
Um de entre nós,
Melhor dizendo,
Que terá talvez caído menos mal.
Marin Sorescu
Assim pelo menos,
E nessa manhã, vá-se lá saber porquê,
Uma janela deixada aberta talvez,
Alguém se atirou para o vazio.
Então subitamente todos eles
Se puseram a saltar
Uns atrás dos outros,
À bicha, como que fazendo a chamada
Sobre um trampolim,
Segundo o princípio da desintegração dos carneiros.
Em menos de uma hora e meia
Encontrei-me totalmente despido, sem nada,
E de vergonha atirei-me para o vazio também eu,
Devo ter morrido à altura do quarto andar,
Ao décimo, em todo o caso,
A coisa estava consumada.
Tudo isto,
É um mero passante,
Quem vo-lo conta,
Um de entre nós,
Melhor dizendo,
Que terá talvez caído menos mal.
Marin Sorescu
Jenny Yu |
sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
Instante
Deixai-me limpo
O ar dos quartos
E liso
O branco das paredes
Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio
Sophia de Mello Breyner Andresen
Subscrever:
Mensagens (Atom)