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segunda-feira, 11 de março de 2019

Tudo isso há de começar mais uma vez

Tudo isso há de começar mais uma vez
o livro que eu levava pra todo lado e lia
vai ser lido por outro alguém. Alguém há de aprender
a contar até dez pela primeira vez, depois até cem
e alguém há de aprender os dias da semana e assim há de saber
que a sexta-feira é o melhor e que o domingo é o pior dia da semana
porque domingo é o dia em que só fazemos esperar pela segunda-feira
e com a segunda-feira até a quinta-feira é impossível contar
se a gente trabalha o dia inteiro e fica sentada numa cadeira de noite
Porém, mesmo assim tudo isso há de começar mais uma vez:
alguém há de sentar na escadaria sob essa luz sarapintada
tentando escrever um poeminha num pedaço de papel
e alguém há de aprender a pedalar,
e alguém há de ler que o universo encontra-se em expansão
e sobre sóis que só sabem seguir explodindo
e alguém há de estudar hebraico antigo e ornitologia
e passear à noitinha com as mãos no bolso do casaco
sabendo que há de morrer, mas não já já
antes outro alguém há de se apaixonar por ele, tomara,
e depois alguém há de deixá-lo, mas não já já
pois tudo isso há de começar mais uma vez: alguém há de ler
Pablo Neruda pela primeira vez, e Osip Mandelstam
e Bertholt Brecht, alguém há de ler Wisława Szymborska
e alguém há de descobrir quantos somos nós todos que vivemos nesse mundo
e de repente há de entender que cada um de nós é um indivíduo
mesmo que não haja individualismo suficiente para todos
e mesmo que não seja verdade que todas as pessoas
têm o mesmo valor, alguém há de aprender isso e crer nisso
até que não seja mais possível seguir crendo nisso
pois isso não parece ser verdade
pois isso não parece possível de se realizar
mesmo que não seja possível crer em mais nada além do facto
de a escuridão escalar os vários andares
e de a escuridão um dia chegar aos teus pés
e de tu um dia vadear nela e de ela chegar até às tuas mãos
e gritar na escuridão e beber a escuridão, não porque tens sede
mas porque não há mais nada senão ela, e porque aquela velha
luz sarapintada que não havia era suficiente para todos
não é mesmo? mas tudo isso há de ser repetido por outro alguém
e a luz dispara sem parar cruzando a escuridão
de 300.000 quilómetros e leva menos tempo para te achar do que um gato esquelético
enquanto estás ali parado tentando achar as chaves no bolso do casaco
e tudo o que te acontece acontece creias ou não creias que seja verdade

Geir Gulliksen, trad. Luciano Dutra


When I was older

I died in a good mood

For whatever we lose 
(a you or a me) 
it’s always ourselves 
we find in the sea.

 - E.E. Cummings


Sophie Calle, I died in a good mood, 2013

Motivo Antigo

Mar claro,
tranquila água
– por meu sorriso
de mágoa.

Céu longo,
nuvem redonda
– por meu olhar
de sombra.

Caminho andado,
areia rude
– por meu rosto
de amargura.


Glória de Sant’Anna in Livro de Água, 1961

Pouco a pouco

Pouco a pouco me esqueço, e não sei nada.
Assim será a morte, e o que da morte
é sono e dor aguda que me crispa plácido
em sonhos dissolvidos sem anseio ou mágoa.

Este ficar de longe, num cansaço;
o ouvir das vozes como outrora infância;
o estar-se imóvel mais, e devagar
perder, um após outro, o gosto a um gesto

mesmo pensado nesta horizontal
que alastra entre o passado e coisa alguma.
Este não ter senão a solidão
como silêncio e treva finalmente aceites.

A vida tão vivida e desejada,
o ser como o fazer, o sexo em tudo visto,
as coisas e as palavras possuídas,
tudo se não dissolve mas se afasta
alheio e sem saudade. Nem repouso
ou calmo abjurar da fúria amarga.
Apenas não sei nada, não recordo nada,
já nada quero, e aos outros deixo tudo.

Jorge de Sena


Anatol Knotek

domingo, 3 de março de 2019

You've got to learn

Dreams

Silver Springs

Windmills of your mind

Like a circle in a spiral, like a wheel within a wheel
Never ending or beginning on an ever spinning reel
As the images unwind, like the circles that you find
In the windmills of your mind


Les moulins de mon coeur

Une pierre que l'on jette
Dans l'eau vive d'un ruisseau
Et qui laisse derrière elle
Des milliers de ronds dans l'eau
Au vent des quatre saisons
Tu fais tourner de ton nom
Tous les moulins de mon coeur


Bang Bang

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