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sábado, 27 de outubro de 2018

Lampi

Stanotte un sussultante cielo
malato di nuvole nere
acuisce a sprazzi vividi
il mio desiderio insonne
e lo fa duro e lucente
come una lama d'acciaio.

Antonia Pozzi

Lightning

Tonight a trembling sky
sick with black clouds
sharpens in brilliant flashes
my sleepless desire
and makes it hard and bright
like a blade of steel.

trad. Amy Newman

Afa

Oggi
la mia tristezza esigente
a starnazzarmi nell’anima
pesantemente
come scirocco
pregno di salsedine                                               

Milano, 25 aprile 1929

Antonia Pozzi


Sultriness

Today
my sadness demanding
fluttering in my soul
heavily
like a sirocco
soaked with salt                                                     

Milan, 25 April 1929

trad. Amy Newman

Takotsubo

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Amore di lontananza

Ricordo che, quand’ero nella casa
della mia mamma, in mezzo alla pianura,
avevo una finestra che guardava
sui prati; in fondo, l’argine boscoso
nascondeva il Ticino e, ancor più in fondo,
c’era una striscia scura di colline.
Io allora non avevo visto il mare
che una sol volta, ma ne conservavo
un’aspra nostalgia da innamorata.
Verso sera fissavo l’orizzonte;
socchiudevo un po’ gli occhi; accarezzavo
i contorni e i colori tra le ciglia:
e la striscia dei colli si spianava,
tremula, azzurra: a me pareva il mare
e mi piaceva più del mare vero.

Milano, 24 aprile 1929

Antonia Pozzi


Love of distance

I remember, when in my mother’s house,
in the middle of the plain, I had
a window that looked onto
the meadows; far off, the wooded bank
hid the Ticino and, further on,
there was a dark line of hills.
Back then I’d only seen the sea
one time, but preserved of it
a sharp nostalgia as when in love.
Towards evening I stared at the skyline;
narrowed my eyes a little; caressed
outlines and colours between my lids;
and the line of hills flattened out,
trembling, azure: and seemed the sea to me
and pleased me more than the real sea.


trad. Peter Robinson

domingo, 21 de outubro de 2018

A Forest

I hear her voice
Calling my name
...
Into the trees
Suddenly I stop
But I know it's too late
I'm lost in a forest
All alone
The girl was never there
It's always the same
I'm running towards nothing
Again and again and again and again


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Over, over

I know it's over still I cling, I don't know where else I can go
Over, over
...
Do you think you can help me?
...
I know it's over

It never really began but in my heart it was so real
...
It's so easy to laugh, it's so easy to hate
It takes guts to be gentle and kind
Over, over
...
Love is natural and real
But not for such as you and I, my love
...

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Has Ended

I woke up in a city
the soldiers had come home
the ego it had ended
his loud mouth was gone
the witches all were singing
and the water turned grey
and the mirrors and the phones
caught flame, caught flame

saying we won’t make this mistake again

then the idiot was alone
was alone
and the water it forgave us
and the fascists felt ashamed
at their dancing puppet king

saying we won’t make this mistake again


segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Deuses desleais

Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera.
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.

Miguel Torga, Diário XV


Não é fácil o amor

Não é fácil o amor melhor seria
Arrancar um braço fazê-lo voar
Dar a volta ao mundo abraçar
Todo o mundo fazer da alegria


O pão nosso de cada dia não copiar
Os males do amor matar a melancolia
Que há no amor querer a vontade fria
Ser cego surdo mudo não sujeitar


O amor ao destino de cada um não ter
Destino nenhum ser a própria imagem
Do amor pôr o coração ao largo não sofrer


Os males do amor não vacilar ter a coragem
De enfrentar a razão de ser da própria dor
Porque o amor é triste não é fácil o amor


Luís Pignatelli


(cantado no álbum Cantar ao Sol, 1983, de Janita Salomé)

Rip it out

Happy?



Wicked Game

Dreamers, they never learn.

 

Wishful thinking


Une Femme Mariée, Jean-Luc Godard, 1964

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Outro dia

Escrever assim …
escrever sem arte,
sem cuidado,
sem estilo,
sem nobreza,
nem lindeza …
sem maior concentração,
sem grandes pensamentos,
sem belas comparações,
não será escrever!
Mas assim me apetece,
que o entendam ou não,
que o admitam ou não,
escrever …
estender
o delgado, estiado,
inoperante
pensamento.
Este pensar
não é actuar mentalmente,
sequer,
é descansar …
Estive deitada,
e agora estou sentada.
Deitada via as nuvens,
brancas do sol,
brilhantes,
enoveladas.
Tanta brancura
à frente dos meus olhos!
Afogava-me nela.
De que me lembrava?
Nem eu já sei.
As ideias do dia,
picadas sem dor,
a que sorria,
como apareciam, desapareciam …
Realmente,
só na hora,
no pleno instante
de nos assaltarem,
frescas e imprevistas,
têm o seu sabor.
Deitada,
com a luz nos olhos,
sonhava … sei que sonhava…
na única coisa em que se sonha,
na única em que se pensa,
naquela que é a trama,
o fundo ora baço,
ora vivo,
persistente e teimoso,
das nossas preocupações …
Antes ensaiei vestidos,
mas todos usados …
Vestidos do verão, 

leves,
remoçantes,
que dá gosto ensaiar.
É uma experiência que se faz …
Vemo-nos ao espelho
e ele que nos diz?
Tudo o que desejamos
e também o que receamos …
Que me diz o espelho?
Fala-me dos olhos, 


fala-me do corpo,


engana-me …
Mas também me diz, 

tantas vezes!:
nada esperes,
és tola.
Ai que podem os vestidos, 

que podem os espelhos? 

Tempo!
Tu é que tens a última palavra! 

Corres,
e, sem dó, tudo inutilizas. 

Bem hajas!
Inutiliza! Mas não demores!


Destrói! Mata!
Que o pior mal,
de todos o pior,
é esperar,
sempre esperar.

Irene Lisboa
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