Às vezes entristece-me esta cama cheia de espaço
Isto de não servir a ninguém
Penso: mas que medida tenho eu
Que nunca sou roupa para os outros
Diria que não é culpa minha
Sei que faço a vida como as outras pessoas
perdida no horizonte de um entardecer canalha
vindo para casa sorrindo aos vizinhos
com um saco de fruta na mão
Penso: todos veem que fui às compras
E que tenho o ar leve de quem parou no café
espalhando perfume
Dizendo o que está certo sobre este dia
Sendo a mulher exacta do que é ser mulher
servindo o balcão a todo o comprimento
E tudo pode mudar depois de uma bica
Talvez eu passe a servir a um corpo
e a cama se torne mais pequena
Como é bom saber que por aqui todos estão vivos
ignorando a minha dificuldade em escolher maçãs
Penso: não pode ser assim tão mau
entrego-me ao destino, há muito que não conto
contigo
serei como todos os outros
E olho a fruta que não como
Pernas nuas e mão no sexo
Cláudia R Sampaio