que de súbito compreendi
porque toda a gente a chorar
se ria de ti.
Riam-se os anhos
a comerem flores...
E riam-se os rebanhos
nos olhos dos pastores.
Riam-se os enforcados a bailar nas traves
de língua de fora.
E riam-se nas caves
os beleguins da penhora.
Ria-se o ranger da boca dos ventos
na fome das barcas...
E riam-se os avarentos
com o sol nas arcas.
Ria-se o pregar dos pregos
nos caixões dos hospícios.
E riam-se os cegos
à beira dos precipícios.
Riam-se as lágrimas das mães
a embalarem a morte dos filhos.
E riam-se os cães
em berços de junquilhos.
Riam-se os gigantes verdadeiros
em surdas vozes...
E riam-se os carneiros
... de serem ferozes.
Ria-se a pobre gente
sem alma nem pão
no incêndio de pó dos caminhos...
E principalmente - ah ! e principalmente ! -
riam-se num furacão
os donos dos moinhos.
José Gomes Ferreira, "Poesia I"