tal como pedes eu trato
dos nossos tristes assuntos
já rasguei o teu retrato
e outro em que estávamos juntos.
e o anel que tu me deste
fui deitá-lo fora ao mar,
o vento soprava agreste
e não havia luar.
há-de ficar-te a lembrança
da nossa vida passada,
eu, perdida a esperança,
fico sem nada, sem nada.
fica tu com as mentiras
que te dizem estou bem
e outras mais que tu prefiras,
que as não digo a mais ninguém.
fico eu com as verdades
tão duras, sem exagero,
e angústias e ansiedades
e agonia e desespero,
fico eu com o vazio
da negra noite sem fim,
nem sei quem sou, tenho frio,
estou comigo e sem mim
não me conheço ao espelho:
serei eu? não serei eu?
já deixou de ser vermelho
um coração que bateu.
e assim eu me despedaço,
sem salvação nem socorro:
se não sou eu, me desgraço,
se sou eu, sinto que morro.
Vasco Graça Moura, in Poesia 2001-2005
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
A jaula e as feras
Vivem centos de doidos nesse hospício
(Quem no diria, olhando cá de fora...?!)
E o portão dança já no velho quício,
Dança, e faz entrar mais a toda a hora...
Trazem todos um sonho, um crime, um vício,
E foram reis lá muito longe, outrora...
E em seus rostos de espanto ou de flagício
Não sei que ausência atroz a toda a hora...
Faz medo e angústia olhá-los bem nos olhos;
E, lá por trás de grades e ferrolhos,
Estoiram de ansiedade desmedida.
- Meu corpo, ó meu hospício de alienados!
Abre-te aos meus desejos enjaulados,
Deixa-os despedaçar a minha vida!
José Régio, Poemas de Deus e do Diabo
C.C. Baxter: The mirror… it’s broken.
Miss Kubelik: Yes, I know. I like it that way. Makes me look the way I feel.
The Apartment (1960), de Billy Wilder
(Quem no diria, olhando cá de fora...?!)
E o portão dança já no velho quício,
Dança, e faz entrar mais a toda a hora...
Trazem todos um sonho, um crime, um vício,
E foram reis lá muito longe, outrora...
E em seus rostos de espanto ou de flagício
Não sei que ausência atroz a toda a hora...
Faz medo e angústia olhá-los bem nos olhos;
E, lá por trás de grades e ferrolhos,
Estoiram de ansiedade desmedida.
- Meu corpo, ó meu hospício de alienados!
Abre-te aos meus desejos enjaulados,
Deixa-os despedaçar a minha vida!
José Régio, Poemas de Deus e do Diabo
C.C. Baxter: The mirror… it’s broken.
Miss Kubelik: Yes, I know. I like it that way. Makes me look the way I feel.
The Apartment (1960), de Billy Wilder
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Olho-te e não me vês...
Olho-te e não me vês. A primavera vigia
a floração das malvas e o girassol retribui
os favores da luz. Eu sento-me onde acho
que vai estar a tua sombra. E, como a dor
que persegue a ferida, vejo-te quando passas,
mas vejo-te melhor quando não passas. Tu
não me vês; caminhas na geometria vã de
uma linha sem pontos; às vezes parece que
alguma coisa te detém e viras-te - talvez
então me chames dentro de ti, talvez até
me olhes. Mas não me vês.
Maria do Rosário Pedreira
a floração das malvas e o girassol retribui
os favores da luz. Eu sento-me onde acho
que vai estar a tua sombra. E, como a dor
que persegue a ferida, vejo-te quando passas,
mas vejo-te melhor quando não passas. Tu
não me vês; caminhas na geometria vã de
uma linha sem pontos; às vezes parece que
alguma coisa te detém e viras-te - talvez
então me chames dentro de ti, talvez até
me olhes. Mas não me vês.
Maria do Rosário Pedreira
domingo, 12 de fevereiro de 2012
sábado, 11 de fevereiro de 2012
My Funny Valentine
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Under Ice
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Vida Tão Estranha
Antes sozinha toda a vida que ter um coração que mente.
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