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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sit Down

Por mais que aborreças essa melodia
da vida quotidiana, chata e nevoenta,
que te serena;
por mais lobo sem dentes que te creias;
por mais saber, experiência e paz de espírito;
por mais ordem que ponhas a decorar as paredes,
por mais idade que a idade te dê,
por mais vidas que os livros te ofereçam,
e acrescenta a esta lista aquilo que quiseres,
há um poço selvagem no fundo de ti mesmo,
um lugar tão teu como a tua própria morte,
de pedra e de noite, de fogo e de lágrimas.
Em suas duvidosas águas
repousa desde sempre o que não dorme,
um remoto lugar onde se forjam
abominações e sonhos,
crimes e traição.
É o poço do que és capaz,
onde dormem répteis e há um fulgor
e uma profunda espera.
No teu rosto também, tu és esse poço.

Já sei que o sabias. Por isso,
aceita, brinda e bebe.


Carlos Marzal (Trad. Albino M.)



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