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sábado, 24 de abril de 2010

O des-conhecimento do eu

A poesia de Fernando Pessoa assenta numa questão primordial: a da identidade perdida. "Quem me dirá quem sou?" é a interrogação presente em todas as máscaras e ficções da sua escrita múltipla.

Na solidão essencial da sua vida e obra vislumbra-se a perda narcísica de si e do mundo - um jogo ambivalente entre o escrever e o viver.

Coloco aqui hoje apenas o primeiro de muitos poemas a serem colocados do meu poeta de eleição (ou talvez devesse dizer dos meus poetas...)

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa

18-09-1933
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