segunda-feira, 24 de setembro de 2018
domingo, 23 de setembro de 2018
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
Say anything
Love I get so lost, sometimes
Days pass and this emptiness fills my heart
When I want to run away
I drive off in my car
But whichever way I go
I come back to the place you are
Days pass and this emptiness fills my heart
When I want to run away
I drive off in my car
But whichever way I go
I come back to the place you are
Say Anything, Cameron Crowe, 1989 |
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
Estar dentro
1
Reúno-me com os professores da turma numa sala de aulas comum, mas nestas alturas tratamo-la por “sala de reuniões”. A diferença da sala de aulas e da sala de reuniões está na disposição das mesas – arrastaram-se algumas até ao centro, fazendo um rectângulo maior em torno do qual os professores abancam. A outra diferença é que, quando os alunos se sentavam dois a dois, as mesas não se chamavam mesas, eram carteiras. Apercebo-me que o “Carina + Igor” escrito à minha frente é muito mais estranho numa mesa do que numa carteira.
2
No rectângulo de mesas sentam-se pessoas que têm em comum a profissão e a vontade que o tempo passe depressa. Já as idades são diversas. Não sei quem é o mais velho entre nós, e isso seria uma informação sem importância alguma – exactamente o tipo de informação que hoje em dia me deixa curioso (a internet estragou-me). É claro que não vou perguntar isto das idades. Tenho senso de decoro. E embora estejamos todos com vontade que o tempo passe depressa, pareço ser o único dedicado a não atrasá-lo com perguntas sem importância alguma.
[...]
3
A reunião de professores tem por nomenclatura oficial “Conselho de Turma”. Questiono-me se o nome não parecerá pomposo e formal aos que estão de fora (esse mundo imenso de não-professores). Às vezes divago e imagino-me de fora; imagino-me a entrar ao engano nesta sala, ver as bolachas que alguém trouxe para a mesa, olhar para a informalidade das roupas, para os cabelos berrantes das professoras divorciadas. Imagino que me pedem silêncio porque está a decorrer um “Conselho de Turma”. O nome não soará pomposo e formal a quem está de fora?
A verdade é que estou dentro, e sei que a nomenclatura é ajustada. Há aqui gente extraordinariamente dedicada ao Ensino e aos alunos, dedicação que transcende a formalidade e merece todas as bolachas que quiser num “Conselho”. Ouço testemunhos de colegas que me envergonham - pelo tanto que eles fazem e sacrificam em prol dos miúdos, pelo pouco que em comparação eu faço. São testemunhos que me deixam com ponta corporativista, quase priapismo sindicalista. Sinto-me culpado por estar sempre a imaginar-me de fora. Culpado por andar sempre distraído a escrever disparates no meu Moleskine. Quero estar dentro. Vou só rabiscar aqui uma caricatura no canto e já vou para dentro. Dentro de momentos. Dentro do possível.
[...]
Samuel Úria, "Regressão às aulas" in Sapo 24, 12 Setembro 2018
Reúno-me com os professores da turma numa sala de aulas comum, mas nestas alturas tratamo-la por “sala de reuniões”. A diferença da sala de aulas e da sala de reuniões está na disposição das mesas – arrastaram-se algumas até ao centro, fazendo um rectângulo maior em torno do qual os professores abancam. A outra diferença é que, quando os alunos se sentavam dois a dois, as mesas não se chamavam mesas, eram carteiras. Apercebo-me que o “Carina + Igor” escrito à minha frente é muito mais estranho numa mesa do que numa carteira.
2
No rectângulo de mesas sentam-se pessoas que têm em comum a profissão e a vontade que o tempo passe depressa. Já as idades são diversas. Não sei quem é o mais velho entre nós, e isso seria uma informação sem importância alguma – exactamente o tipo de informação que hoje em dia me deixa curioso (a internet estragou-me). É claro que não vou perguntar isto das idades. Tenho senso de decoro. E embora estejamos todos com vontade que o tempo passe depressa, pareço ser o único dedicado a não atrasá-lo com perguntas sem importância alguma.
[...]
3
A reunião de professores tem por nomenclatura oficial “Conselho de Turma”. Questiono-me se o nome não parecerá pomposo e formal aos que estão de fora (esse mundo imenso de não-professores). Às vezes divago e imagino-me de fora; imagino-me a entrar ao engano nesta sala, ver as bolachas que alguém trouxe para a mesa, olhar para a informalidade das roupas, para os cabelos berrantes das professoras divorciadas. Imagino que me pedem silêncio porque está a decorrer um “Conselho de Turma”. O nome não soará pomposo e formal a quem está de fora?
A verdade é que estou dentro, e sei que a nomenclatura é ajustada. Há aqui gente extraordinariamente dedicada ao Ensino e aos alunos, dedicação que transcende a formalidade e merece todas as bolachas que quiser num “Conselho”. Ouço testemunhos de colegas que me envergonham - pelo tanto que eles fazem e sacrificam em prol dos miúdos, pelo pouco que em comparação eu faço. São testemunhos que me deixam com ponta corporativista, quase priapismo sindicalista. Sinto-me culpado por estar sempre a imaginar-me de fora. Culpado por andar sempre distraído a escrever disparates no meu Moleskine. Quero estar dentro. Vou só rabiscar aqui uma caricatura no canto e já vou para dentro. Dentro de momentos. Dentro do possível.
[...]
Samuel Úria, "Regressão às aulas" in Sapo 24, 12 Setembro 2018
sexta-feira, 7 de setembro de 2018
45 Mercy Street
In my dream,
drilling into the marrow
of my entire bone,
my real dream,
I'm walking up and down Beacon Hill
searching for a street sign -
namely MERCY STREET.
Not there.
I try the Back Bay.
Not there.
Not there.
And yet I know the number.
45 Mercy Street.
I know the stained-glass window
of the foyer,
the three flights of the house
with its parquet floors.
I know the furniture and
mother, grandmother, great-grandmother,
the servants.
I know the cupboard of Spode
the boat of ice, solid silver,
where the butter sits in neat squares
like strange giant's teeth
on the big mahogany table.
I know it well.
Not there.
Where did you go?
45 Mercy Street,
with great-grandmother
kneeling in her whale-bone corset
and praying gently but fiercely
to the wash basin,
at five A.M.
at noon
dozing in her wiggy rocker,
grandfather taking a nap in the pantry,
grandmother pushing the bell for the downstairs maid,
and Nana rocking Mother with an oversized flower
on her forehead to cover the curl
of when she was good and when she was...
And where she was begat
and in a generation
the third she will beget,
me,
with the stranger's seed blooming
into the flower called Horrid.
I walk in a yellow dress
and a white pocketbook stuffed with cigarettes,
enough pills, my wallet, my keys,
and being twenty-eight, or is it forty-five?
I walk. I walk.
I hold matches at street signs
for it is dark,
as dark as the leathery dead
and I have lost my green Ford,
my house in the suburbs,
two little kids
sucked up like pollen by the bee in me
and a husband
who has wiped off his eyes
in order not to see my inside out
and I am walking and looking
and this is no dream
just my oily life
where the people are alibis
and the street is unfindable for an
entire lifetime.
Pull the shades down -
I don't care!
Bolt the door, mercy,
erase the number,
rip down the street sign,
what can it matter,
what can it matter to this cheapskate
who wants to own the past
that went out on a dead ship
and left me only with paper?
Not there.
I open my pocketbook,
as women do,
and fish swim back and forth
between the dollars and the lipstick.
I pick them out,
one by one
and throw them at the street signs,
and shoot my pocketbook
into the Charles River.
Next I pull the dream off
and slam into the cement wall
of the clumsy calendar
I live in,
my life,
and its hauled up
notebooks.
Anne Sexton
drilling into the marrow
of my entire bone,
my real dream,
I'm walking up and down Beacon Hill
searching for a street sign -
namely MERCY STREET.
Not there.
I try the Back Bay.
Not there.
Not there.
And yet I know the number.
45 Mercy Street.
I know the stained-glass window
of the foyer,
the three flights of the house
with its parquet floors.
I know the furniture and
mother, grandmother, great-grandmother,
the servants.
I know the cupboard of Spode
the boat of ice, solid silver,
where the butter sits in neat squares
like strange giant's teeth
on the big mahogany table.
I know it well.
Not there.
Where did you go?
45 Mercy Street,
with great-grandmother
kneeling in her whale-bone corset
and praying gently but fiercely
to the wash basin,
at five A.M.
at noon
dozing in her wiggy rocker,
grandfather taking a nap in the pantry,
grandmother pushing the bell for the downstairs maid,
and Nana rocking Mother with an oversized flower
on her forehead to cover the curl
of when she was good and when she was...
And where she was begat
and in a generation
the third she will beget,
me,
with the stranger's seed blooming
into the flower called Horrid.
I walk in a yellow dress
and a white pocketbook stuffed with cigarettes,
enough pills, my wallet, my keys,
and being twenty-eight, or is it forty-five?
I walk. I walk.
I hold matches at street signs
for it is dark,
as dark as the leathery dead
and I have lost my green Ford,
my house in the suburbs,
two little kids
sucked up like pollen by the bee in me
and a husband
who has wiped off his eyes
in order not to see my inside out
and I am walking and looking
and this is no dream
just my oily life
where the people are alibis
and the street is unfindable for an
entire lifetime.
Pull the shades down -
I don't care!
Bolt the door, mercy,
erase the number,
rip down the street sign,
what can it matter,
what can it matter to this cheapskate
who wants to own the past
that went out on a dead ship
and left me only with paper?
Not there.
I open my pocketbook,
as women do,
and fish swim back and forth
between the dollars and the lipstick.
I pick them out,
one by one
and throw them at the street signs,
and shoot my pocketbook
into the Charles River.
Next I pull the dream off
and slam into the cement wall
of the clumsy calendar
I live in,
my life,
and its hauled up
notebooks.
Anne Sexton
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