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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Say anything

Love I get so lost, sometimes
Days pass and this emptiness fills my heart
When I want to run away
I drive off in my car
But whichever way I go
I come back to the place you are


Say Anything, Cameron Crowe, 1989

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Estar dentro

1

Reúno-me com os professores da turma numa sala de aulas comum, mas nestas alturas tratamo-la por “sala de reuniões”. A diferença da sala de aulas e da sala de reuniões está na disposição das mesas – arrastaram-se algumas até ao centro, fazendo um rectângulo maior em torno do qual os professores abancam. A outra diferença é que, quando os alunos se sentavam dois a dois, as mesas não se chamavam mesas, eram carteiras. Apercebo-me que o “Carina + Igor” escrito à minha frente é muito mais estranho numa mesa do que numa carteira.

2

No rectângulo de mesas sentam-se pessoas que têm em comum a profissão e a vontade que o tempo passe depressa. Já as idades são diversas. Não sei quem é o mais velho entre nós, e isso seria uma informação sem importância alguma – exactamente o tipo de informação que hoje em dia me deixa curioso (a internet estragou-me). É claro que não vou perguntar isto das idades. Tenho senso de decoro. E embora estejamos todos com vontade que o tempo passe depressa, pareço ser o único dedicado a não atrasá-lo com perguntas sem importância alguma.

[...]

3

A reunião de professores tem por nomenclatura oficial “Conselho de Turma”. Questiono-me se o nome não parecerá pomposo e formal aos que estão de fora (esse mundo imenso de não-professores). Às vezes divago e imagino-me de fora; imagino-me a entrar ao engano nesta sala, ver as bolachas que alguém trouxe para a mesa, olhar para a informalidade das roupas, para os cabelos berrantes das professoras divorciadas. Imagino que me pedem silêncio porque está a decorrer um “Conselho de Turma”. O nome não soará pomposo e formal a quem está de fora?


A verdade é que estou dentro, e sei que a nomenclatura é ajustada. Há aqui gente extraordinariamente dedicada ao Ensino e aos alunos, dedicação que transcende a formalidade e merece todas as bolachas que quiser num “Conselho”. Ouço testemunhos de colegas que me envergonham - pelo tanto que eles fazem e sacrificam em prol dos miúdos, pelo pouco que em comparação eu faço. São testemunhos que me deixam com ponta corporativista, quase priapismo sindicalista. Sinto-me culpado por estar sempre a imaginar-me de fora. Culpado por andar sempre distraído a escrever disparates no meu Moleskine. Quero estar dentro. Vou só rabiscar aqui uma caricatura no canto e já vou para dentro. Dentro de momentos. Dentro do possível.

[...]

Samuel Úria, "Regressão às aulas" in Sapo 24, 12 Setembro 2018

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

45 Mercy Street

In my dream, 
drilling into the marrow 
of my entire bone, 
my real dream, 
I'm walking up and down Beacon Hill 
searching for a street sign - 
namely MERCY STREET. 
Not there. 

I try the Back Bay. 
Not there. 
Not there. 
And yet I know the number. 
45 Mercy Street. 
I know the stained-glass window 
of the foyer, 
the three flights of the house 
with its parquet floors. 
I know the furniture and 
mother, grandmother, great-grandmother, 
the servants. 
I know the cupboard of Spode 
the boat of ice, solid silver, 
where the butter sits in neat squares 
like strange giant's teeth 
on the big mahogany table. 
I know it well. 
Not there. 

Where did you go? 
45 Mercy Street, 
with great-grandmother 
kneeling in her whale-bone corset 
and praying gently but fiercely 
to the wash basin, 
at five A.M. 
at noon 
dozing in her wiggy rocker, 
grandfather taking a nap in the pantry, 
grandmother pushing the bell for the downstairs maid, 
and Nana rocking Mother with an oversized flower 
on her forehead to cover the curl 
of when she was good and when she was... 
And where she was begat 
and in a generation 
the third she will beget, 
me, 
with the stranger's seed blooming 
into the flower called Horrid. 

I walk in a yellow dress 
and a white pocketbook stuffed with cigarettes, 
enough pills, my wallet, my keys, 
and being twenty-eight, or is it forty-five? 
I walk. I walk. 
I hold matches at street signs 
for it is dark, 
as dark as the leathery dead 
and I have lost my green Ford, 
my house in the suburbs, 
two little kids 
sucked up like pollen by the bee in me 
and a husband 
who has wiped off his eyes 
in order not to see my inside out 
and I am walking and looking 
and this is no dream 
just my oily life 
where the people are alibis 
and the street is unfindable for an 
entire lifetime. 

Pull the shades down - 
I don't care! 
Bolt the door, mercy, 
erase the number, 
rip down the street sign, 
what can it matter, 
what can it matter to this cheapskate 
who wants to own the past 
that went out on a dead ship 
and left me only with paper? 

Not there. 

I open my pocketbook, 
as women do, 
and fish swim back and forth 
between the dollars and the lipstick. 
I pick them out, 
one by one 
and throw them at the street signs, 
and shoot my pocketbook 
into the Charles River. 
Next I pull the dream off 
and slam into the cement wall 
of the clumsy calendar 
I live in, 
my life, 
and its hauled up 
notebooks. 


Anne Sexton
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