Essa diabrura prolifera como erva daninha
num canteiro demarcado para margaridas.
Para aqueles que pensam, nada é sagrado.
A ousadia de chamar as coisas pelos nomes,
a dissolução da análise, a impudicícia da síntese,
a perseguição selvagem e debochada dos factos nus,
o tactear indecente de temas delicados,
a desova das ideias – é disso que eles gostam.
À luz do dia ou na escuridão da noite
juntam-se aos pares, triângulos e círculos.
Pouco importa ali o sexo e a idade dos parceiros (…)
Preferem o sabor de outros frutos
da árvore proibida do conhecimento
do que os traseiros rosados das revistas ilustradas,
toda essa pornografia na verdade simplória (…)
É chocante em que posições,
com que escandalosa simplicidade
um intelecto emprenha o outro!
Tais posições nem o Kamasutra conhece (…)”
wislawa szymborska, opinião sobre pornografia
Alphaville, de Jean-Luc Godard, 1965 |