quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019
A si mesmo
Repousa para sempre,
meu exausto coração. Morto é o engano extremo
que eu supusera eterno. É morto. E sinto
que em nós de enganos caros
a mais da esp'rança, o desejar é extinto.
Repousa. Já bastante
hás palpitado. Coisa alguma vale
o teu bater, nem de suspiros é digna
a terra. Tédio amargo
a vida, e nada mais; e lama é o mundo.
Quieto, pois. Desespera
por uma última vez. À raça humana o fado
não deu mais que o morrer. Agora te despreza
a natureza, o brutal
poder que, oculto, contra nós impera,
e a infinda vaidade do que existe.
Giacomo Leopardi
meu exausto coração. Morto é o engano extremo
que eu supusera eterno. É morto. E sinto
que em nós de enganos caros
a mais da esp'rança, o desejar é extinto.
Repousa. Já bastante
hás palpitado. Coisa alguma vale
o teu bater, nem de suspiros é digna
a terra. Tédio amargo
a vida, e nada mais; e lama é o mundo.
Quieto, pois. Desespera
por uma última vez. À raça humana o fado
não deu mais que o morrer. Agora te despreza
a natureza, o brutal
poder que, oculto, contra nós impera,
e a infinda vaidade do que existe.
Giacomo Leopardi
Ghismonda com o coração de Guiscardo (detalhe), Bernardino Mei, c. 1650 |
The heart dies a slow death
The heart dies a slow death. Shedding each hope as leaves, until one day there are none. No hopes. Nothing remains.
Memoirs of a Geisha (2005)
Memoirs of a Geisha (2005)
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019
Melody Noir
Quem é esta mulher,
a sempre triste,
que vive no meu coração?
Quis conquistá-la mas não consegui.
Adornei-a com grinaldas
e cantei em seu louvor
Por um momento
bailou o sorriso no seu rosto,
mas logo se desvaneceu.
E disse-me cheia de pena:
— A minha alegria não está em ti.
Comprei-lhe argolas preciosas,
abanei-a com leques recamados de diamantes,
deitei-a em cama de oiro
Bateu as pálpebras
como um relâmpago de alegria
que logo se apagou.
E disse-me cheia de pena:
— Não está nessas coisas a minha alegria.
Sentei-a num carro de triunfo,
e passeei-a por toda a terra.
Milhares de corações conquistados
caíram humildes a seus pés,
e as aclamações reboaram pelo céu
Durante um momento
brilhou o orgulho nos seus olhos,
mas logo se desfez em lágrimas.
E disse cheia de pena:
— Não está na vitória a minha alegria.
Perguntei-lhe:
— Que queres então?
Respondeu-me:
— Espero alguém
que não sei como se chama.
Depois calou-se.
E passa os dias a dizer cheia de pena:
— Quando virá o amado desconhecido?
Quando o conhecerei para sempre?
Rabindranath Tagore
Canta canta mi luna mi luna llena
Esta melodia que es el abismo dentro de mi
El abismo dentro de mi
Mi luna mi luna llena
a sempre triste,
que vive no meu coração?
Quis conquistá-la mas não consegui.
Adornei-a com grinaldas
e cantei em seu louvor
Por um momento
bailou o sorriso no seu rosto,
mas logo se desvaneceu.
E disse-me cheia de pena:
— A minha alegria não está em ti.
Comprei-lhe argolas preciosas,
abanei-a com leques recamados de diamantes,
deitei-a em cama de oiro
Bateu as pálpebras
como um relâmpago de alegria
que logo se apagou.
E disse-me cheia de pena:
— Não está nessas coisas a minha alegria.
Sentei-a num carro de triunfo,
e passeei-a por toda a terra.
Milhares de corações conquistados
caíram humildes a seus pés,
e as aclamações reboaram pelo céu
Durante um momento
brilhou o orgulho nos seus olhos,
mas logo se desfez em lágrimas.
E disse cheia de pena:
— Não está na vitória a minha alegria.
Perguntei-lhe:
— Que queres então?
Respondeu-me:
— Espero alguém
que não sei como se chama.
Depois calou-se.
E passa os dias a dizer cheia de pena:
— Quando virá o amado desconhecido?
Quando o conhecerei para sempre?
Rabindranath Tagore
Canta canta mi luna mi luna llena
Esta melodia que es el abismo dentro de mi
El abismo dentro de mi
Mi luna mi luna llena
Dream of the Phone Booth
My story’s told in the mis-dial’s
hesitance & anonyms of crank calls,
in the wires’ electric elegy
& glass expanded by the moth
flicker of filament. I call a past
that believes I’m dead. On the concrete
here, you can see where
I stood in rust, lashed to the grid.
On the corner of Pine & Idlewood,
I’ve seen a virgin on her knees
before the angel
of a streetlight & Moses stealing the Times
to build a fire. I’ve seen the city fly
right through a memory & not break
its neck. But the street still needs a shrine,
so return my ringing heart & no one
to answer it, a traveler whose only destination is
waywardness. Forgive us
our apologies, the bees in our bells, the receiver’s
grease, days horizoned
into words. If we stand
monument to anything,
it’s that only some voices belong
to men.
Emilia Phillips
hesitance & anonyms of crank calls,
in the wires’ electric elegy
& glass expanded by the moth
flicker of filament. I call a past
that believes I’m dead. On the concrete
here, you can see where
I stood in rust, lashed to the grid.
On the corner of Pine & Idlewood,
I’ve seen a virgin on her knees
before the angel
of a streetlight & Moses stealing the Times
to build a fire. I’ve seen the city fly
right through a memory & not break
its neck. But the street still needs a shrine,
so return my ringing heart & no one
to answer it, a traveler whose only destination is
waywardness. Forgive us
our apologies, the bees in our bells, the receiver’s
grease, days horizoned
into words. If we stand
monument to anything,
it’s that only some voices belong
to men.
Emilia Phillips
Endeavour, 2017 |
Ringing heart
"My ringing heart and no one to answer it, a traveler whose only destination is waywardness."
–Dream of the Phone Booth, Emilia Phillips
–Dream of the Phone Booth, Emilia Phillips
Endeavour, 2017 |
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